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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Um momento de prosa..... O Tesouro Perdido (Ou as aventuras de uma mãe pirata)


Ela chegou eufórica!
Por causa que na rua encontrou uma coisa...
E a coisa virou causa. Agora era questão de honra encontrar mais bolinhas de gude. Uma força pulsante a obrigava a seguir seu coração!
Há sempre um momento em que uma mãe cometerá o erro de comprar o que deveria ser conquistado. Pois bem, a hora chegou para mim. Pensei "quer saber, vou comprar todas as bolinhas que ela quiser".
Segurei sua mão e fomos pra rua. Ela seguindo as instruções do mapa do tesouro. Eu seguindo para a loja mais próxima. E adivinhem? Eu cheguei primeiro.
Entreguei a ela uma nota de cinco, e ao receber o troco, ela ficou surpresa com a quantidade de bolinhas que podem ser compradas com apenas dois reais. Foram inacreditáveis cinquenta bolinhas. Ela sabe que dois reais é muito pouco dinheiro. E também sabe que aquelas pequenas pedras de vidro valem tanto quanto moedas de ouro. Era fantástico!
Eu pensei em dar uma explicação, pensei em algumas desculpas, qualquer justificativa que fizesse com que ela me perdoasse por eu ter transformado a sua aventura em um objeto de consumo. Mas era tarde demais! Ela já sabia que o dinheiro pode comprar coisas que nos deixam felizes. E que o dinheiro é algo tão incrível, que mesmo sendo muito pouco, pode comprar valiosos tesouros.
Mas para minha remissão, assim que saímos da loja, ela apertou sua mãozinha na minha mão e me disse quase comovida:
_ Mamãe... Aqui... Muito obrigada pelas bolinhas de gude.
Eu respondi apenas “de nada, linda!” E me senti aliviada. Ela nunca havia me agradecido assim. As crianças aprendem facilmente a dizer obrigada, mas é natural do ser humano levar bastante tempo para aprender a ser grato.
Eu notei que ela estava feliz porque eu ouvi o que ela estava me dizendo. Ela estava feliz porque eu estava ao lado dela, acreditando no sonho dela e não pelas bolinhas de gude!
É muito provável que eu continue falhando e não consiga fazer com que ela seja a pessoa mais feliz do mundo. Mas por causa deste dia, um dia ela vai saber que eu errei muito, mas eu fiz o que pude.
Ela saiu um pouco mais realista, calculando quantos centavos teria custado cada bolinha. E eu saí fantasiosamente convicta de que eu era a capitã do navio e de que o tesouro perdido havia sido encontrado.
É fácil ser uma boa mãe. Basta fazer o possível e se perdoar por isso.


T.F