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sábado, 26 de janeiro de 2013

Belo Horizonte


Estou interessado na não vida
Nos rostos na conta de energia
Na carreta descendo a Senhora do Carmo
Nos números sorteados da loteria
No novo código de posturas
Na verticalização da Pampulha
No cheiro da Lagoa nos presídios
Nos loucos que fugiram do hospício
Na greve dos funcionários
Nos altares desnoivados
Nos pequenos furtos na Assembleia
Na construção do novo estádio
Na puta que não pariu o seu filho
Nos sonhos que morreram atropelados
No cachorro aleijado revirando o lixo
Nas prostitutas aprendendo inglês
No novo viaduto sobre a linha férrea
Na manobra interminável do metrô
No prefeito reeleito à revelia
No clube perdido na esquina
No placar atualizado da rodada
Estou interessado nos assassinatos
Na lâmina que fere o próprio aço
No Duke “chato” e chargista
Nos guardas atrapalhando o trânsito
Nas placas de “passo este ponto”
E em tudo o que nos causa incômodo
Estou interessado na beleza
De um Deus que se mudou pra Nova Lima
E cravou uma cancela no horizonte.




Dos motivos de cada um



Se eu vivesse de poesia
Certamente já estaria morto,
Dizem-me os amigos,
Mas porque não vivo disso
É que desconfio
Que ando a morrer aos poucos.


t.f

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre as flores amarelas


Poesia é pura solidão.
Criam ensaios, insights, monografias,
Livros livros livros
Para explicar um inútil poema.
Para que estudar uma poesia?
Para que dissecá-la? Cortar sua carne fria,
Extrair suas vísceras vazias,
Dividir seu cérebro indivisível?
Para que tomar nas mãos o seu coração inerte?
Deixem em paz os restos mortais da poesia!
Morto, sempre morto, desde o nascimento,
O poema experimenta a existência!
A poesia não tem berço.
Desistam de encontrá-lo, por piedade!
Sob o sepulcro descansa o poeta
E todo poema é um epitáfio!




Tallu Fernandes