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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Fascínio

No caos da hipnótica avenida
Ambulantes, xingamentos e buzinas

O que me prende à cidade é o seu imbróglio

Ao mesmo tempo em que estressa e ensurdece os meus
Ouvidos,
Ela fascina e descansa os meus
Olhos

A cidade é uma mulher perigosa!

Tallu

Se devemos ser do tamanho de nossos sonhos,
Quando nossos sonhos se tornam maiores do que somos,
Não há mais nada a fazer...
Só nos resta crescer!

Tallu

A cura

Caminhei,
Louco,
Até a montanha,
Sentei-me,
Louco,
No seu topo,
Admirei,
Louco,
O ser humano,  
E atirei-me,
Louco,
Neste infindável
Abismo
Que os homens,
Lúcidos,
Loucamente chamam
De sanidade.




sábado, 29 de agosto de 2015

Parque das Mangabeiras...
Passa por mim um garoto, que enrolando um baseado, comenta com o colega que seguia a seu lado, de mãos dadas com a namorada:
_ Eu vi uma estatística que a cada um baseado que você enrola uma pessoa morre.
E seu colega, mostrando, que talvez por estar alienadamente apaixonado, deve estar vivendo em outra dimensão:
_ Sério? Por quê?
_ Tráfico, né, fi? É Polícia matando, bandido matando...
E se foram sem que eu pudesse saber se isqueiros têm realmente a capacidade de deflagrar tiroteios... 
... E sem saber se o amigo apaixonado estaria realmente interessado no assunto, ou apenas tinha o hábito socialmente saudável de fazer perguntas retóricas...
Eu não fumo nem atiro, logo também não tenho nada a ver com a guerra do tráfico e a alienação humana?
Talvez não!

domingo, 16 de agosto de 2015

Outro dia fiz o despejo compulsório de uma familia quase miserável que vivia há dez anos num imóvel invadido que pertence a uma das famílias mais ricas das redondezas.  Ao longo do dia,  retiramos à força, literalmente, pai, mãe e três filhas daquilo que eles acreditavam ser o seu lar. Seus móveis e objetos pessoais foram levados num caminhão. E  no fim do cumprimento da ordem, passamos um trator sobre o barracão, no melhor estilo de 'Saudosa Maloca".  Pronto. Mais um Mandado bem cumprido.  Durante todo o dia, a mulher e as filhas choravam, gritavam e me agrediam com palavrões e pragas inomináveis, enquanto o pai, miseravelmente conformado, tentava achar um lugar pra onde pudesse levar sua família. 
Num dado momento de desespero, a filha caçula gritou pra mim o que considerei a pior de todas as ofensas - "Você é um monstro! Não existe justiça nesse mundo!" Eu fiquei paralisada, olhando pra ela e  pensando o que eu poderia fazer para salvar aquela menina desse sentimento autodestrutivo de total descrença na Justiça? Mas eu era um monstro! E sendo isso, eu respondi - "Você está certa! Não existe Justiça. Infelizmente, o Poder Judiciário não existe para fazer Justiça. Eu sinto muito mesmo. " Ela parou de chorar, e penso que me odiou ainda mais, porque eu talvez tenha acabado de destruir qualquer esperança que ela ainda tivesse.
Mas eu também não tenho mais esperanças. Ganho a vida tirando pessoas miseráveis de lotes invadidos, tomando os carros de inadimplentes de má ou de boa fé, arrancando filhos de más e de boas mães, prendendo homens que não pagam pensão por sacanagem ou por incapacidade econômica, penhorando bens de picaretas e de trabalhadores honestos porém falidos...  Tudo isso porque o Poder Judiciário não foi criado para mudar o mundo, mas para fazer exatamente o contrário. Ele nao distingue o certo do errado moralmente, mas apenas tecnicamente. E a melhor técnica pertence aos melhores advogados, que por sua vez, pertencem aos melhores clientes.   Ele existe para manter a ordem. E a ordem a ser mantida é naturalmente injusta!
Quando eu entrei na Faculdade de Direito eu acreditava na Justiça. Mas bastou entrar para o Poder Judiciário para ter certeza de que a Justiça, nos processos judiciais, é o que menos importa! Talvez porque realmente não existem provas de que ela exista e persegui-la seria um comportamento muito quixotesco!  E descobri que eu ganharia a vida trabalhando pra que a ordem fosse mantida e não "para que a Justiça fosse feita! "
Eu sinto muito mesmo!