Sentado no pedrado, o homem observava
a rua. Vinha lá embaixo uma velha, carregada de sacolas, e de lá de cima,
descia um policial. Os dois se cruzaram bem depois de sua casa, moveram
verticalmente as cabeças, e seguiu cada um o seu rumo. Ela, cada vez mais devagar,
sentindo o peso. E o soldado, aproveitando a descida, sumiu dobrando a rua, à
direita. Quando passou, enfim, por sua porta, ele também a cumprimentou do
mesmo modo, mas perguntou?
_ Como vai o Pedro hoje?
_ Seu irmão acabou de sair para o trabalho. Hoje
ele desceu fardado. Você não viu quando ele passou? – Ela respondeu, prendendo
o ar nos pulmões.
O homem ficou olhando lá
para baixo e não disse nada. Virou-se e entrou.
A velha já não morava naquela casa há alguns anos, mas passava pela sua
porta todos os dias, e de vez em quando entrava. Dessa vez, estava com pressa.
Na última vez em que se
viram, ela subia a rua levando umas sacolas, ele estava sentado no pedrado e um
policial foi morto na rua de baixo. Ultimamente,
ele tem sido visto na porta de sua casa, conversando por longas horas com uma
árvore, a quem de repente abraça, e, sorrindo, bate continência. Em seguida,
ele sobe a rua levando umas sacolas, cheias de pedra, e as deixa na porta de uma
casa abandonada, na subida. Desce outra vez e senta no pedrado. Depois fica
olhando a rua, da ponta ao pé do morro, esperando o momento de começar tudo de
novo.
Tallu Fernandes