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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ser


Sê como o rio
Que desce tranquilo
De encontro ao abismo
E lá estando
Mar profundo
Perde-se o rio
Ganha-se o mundo
Tallu Fernandes

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A terceira margem do rio



Dos tempos normais
Não me alembro mais
Eu era um homem – isso era tudo

Veio o estúrdio
E eu me desaparecia
Depois surgia
Aproado sem trouxa
Em cima da canoa
Sem remo nem rio

Depois disassurgia
Diluído lá dentro de mim
Entestando o mundo
Que me ensimesmava

E o menino ralhava
“Volta, homem”
Mas eu num voltava

Só sabia partir
Sumir sumir sumir
Até que me desassumi de mim

Tallu Fernandes


Minério de Ferro


A pedra era o quê, afinal?
O que era aquilo que tropeçava na gente?
Era o Rio, era Minas, era a raiva
Da juventude boiando na beira de um livro?
Era isso? Ou não era nada?
Era só palavra trepando em palavra
Sem querer nenhum sentido
Mais íntimo ou menos ínfimo...
Era só isso?
Será possível?
Ou seria o impossível se intrometendo na gente.
Mas a troco de quê?
De uns versos mal escritos, uns trocadilhos,
Uns resquícios de felicidade, de euforia,
Talvez até um resto de amargura?
Mas de quê? Da vida, da burguesia, do Estado,
Da inteligência desgastada pelo não uso,
Do exercício ilegal da indecisão?
Ou seria só o chão desaparecendo de repente,
E a alma levitando imprecisa no meio da rua
À espera de qualquer espécie de consolo...
Ou seria isso tudo?
E seria cabível isso tudo numa só palavra?
Não seria melhor não dizer nada?
Não seria muito mais esquisito
Um poema não dito, não escrito, não lido,
Do que isso repetido, repetido, repetido,
Sem nenhum significado aparente?
E essas perguntas ruminando para sempre,
E esse resto de minério de ferro nas unhas,
E esse cheiro de tinteiro, e a aspereza, a crueldade
De fazer redigir mil vezes uma palavra
Que por mais que se diga, escute, escute,
Repita, repita, escreva, esbraveje, ralhe,
Nunca diz nada?
Para o diabo esse poeta
E suas paixões absortas!
Que o relevem as rochas vestidas de orgulho
E os pedregulhos deixados sem roupa!
Que um raio o parta a caminho do Rio!
Se era só um prólogo,
Por que não disse logo?
E se eu era a pedra...
Quem era a outra?


Tallu Fernandes



domingo, 25 de agosto de 2013

Sebastião do Pedrado


  
Sentado no pedrado, o homem observava a rua. Vinha lá embaixo uma velha, carregada de sacolas, e de lá de cima, descia um policial. Os dois se cruzaram bem depois de sua casa, moveram verticalmente as cabeças, e seguiu cada um o seu rumo. Ela, cada vez mais devagar, sentindo o peso. E o soldado, aproveitando a descida, sumiu dobrando a rua, à direita. Quando passou, enfim, por sua porta, ele também a cumprimentou do mesmo modo, mas perguntou?
_ Como vai o Pedro hoje?
_  Seu irmão acabou de sair para o trabalho. Hoje ele desceu fardado. Você não viu quando ele passou? – Ela respondeu, prendendo o ar nos pulmões.
O homem ficou olhando lá para baixo e não disse nada. Virou-se e entrou.  A velha já não morava naquela casa há alguns anos, mas passava pela sua porta todos os dias, e de vez em quando entrava. Dessa vez, estava com pressa.
Na última vez em que se viram, ela subia a rua levando umas sacolas, ele estava sentado no pedrado e um policial foi morto na rua de baixo.  Ultimamente, ele tem sido visto na porta de sua casa, conversando por longas horas com uma árvore, a quem de repente abraça, e, sorrindo, bate continência. Em seguida, ele sobe a rua levando umas sacolas, cheias de pedra, e as deixa na porta de uma casa abandonada, na subida. Desce outra vez e senta no pedrado. Depois fica olhando a rua, da ponta ao pé do morro, esperando o momento de começar tudo de novo.



Tallu Fernandes 




Cartas

O problema das cartas atuais é a ausência do carteiro. Sem ele, as linhas não descansam o tempo suficiente para amadurecer as ideias. As palavras ficam frias, porque não podem experimentar o calorzinho do envelope, de mão em mão, aquecendo os sentimentos que iam lá dentro. Sei lá... Mas deve ser por isso que as cartas enviadas pelo correio certamente eram mais calorosas. 
Agora essas, on line, vão rápido demais, voltam rápido demais. O coração mal tem nem tempo de pensar na primeira e já é hora de responder à segunda. Se demora um ou dois dias, sabe que do lado de lá existe um ser morrendo de angústia.  Mas antigamente, se a resposta demorasse a chegar, isso era muito comum, e as almas podiam dormir tranquilas, os dias podiam passar sem traumas, porque a resposta devia estar em algum lugar, viajando uma viagem longa e preguiçosa. E só era preciso esperar, esperar, esperar... E se a resposta não chegasse nunca, provavelmente houve alguma falha dos correios e a carta foi extraviada. E com este argumento do extravio os correspondentes reconfortavam-se. Porque a dúvida era um ânimo para quem aguardava a resposta, e o pretexto, eternamente disponível, para quem se recusasse a responder... E assim os corações podiam sofrer um pouco mais consolados porque, na ausência de certezas, a dúvida resolvia tudo. E até podia acontecer de, passados alguns dias, as ideias se modificarem, e a resposta, tão aguardada, seria melhor mesmo se já não viesse... E a resposta não enviada, seria bastante urgente que se a enviasse imediatamente. Mas agora o que resta é justamente a mais completa ausência de dúvidas.  Se não respondeu foi porque não quis ou porque não se importa, não existe desculpa. A grande tragédia é que não existe nada mais indispensável na escrita das grandes paixões do que alguns pontinhos de interrogação.

Tallu Fernandes


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Patadas

Que revolta era aquela?
Foi a melhor pergunta
Que me fizeram.
Que pergunta é essa?
Foi a melhor resposta
Que eu lhes dei.
Dizem que é burrice
Responder a uma pergunta
Com outra pergunta.
Mas quando eu me revolto
Contra o mundo
E o mundo não entende minha revolta
É que eu me sinto mais revoltada.
Ou sou eu que não entendo o mundo
Ou é todo mundo que não entende nada.



A cura

Sê sincero, até certo ponto,
Precisamente até onde as vistas
Alcancem a paz.
A partir daí, por precaução,
Sê apenas terno.
A ternura é um santo remédio
Para o excesso de razão.







segunda-feira, 1 de julho de 2013

Lei seca

O primeiro acidente de automóvel no Brasil foi provocado por um Poeta,
Olavo Bilac.

Naquela época não usaram o bafômetro,
Mas ele estava tonto, com certeza -
Em vez de um advogado,
Olavo preferiu falar com as estrelas.

A novidade é que o congresso agora soube dos fatos -
Ocorridos em 1.897.

Com a aprovação da nova lei,
Sabe-se que nenhum assassino será condenado,
Mas será mortalmente multado
Quem for pego recitando Bilac ao volante.

De agora em diante, 
Seu nome passa a ser Olavo Pilec.
E a recitação máxima permitida é de seis decigramas de versos por litro de sangue.



A cigarra e a formiga


Era uma vez, uma formiga workaholic
Ela passou todo o outono trabalhando e acumulando,
Para descansar no inverno.

Enquanto isso, uma cigarra visionária, sua vizinha,
Passou todo o outono ensaiando e se afinando,
Para cantar no inverno.

O inverno chegou.
 E passou.

Ao seu fim,
A formiga estava rica e obesa.
E a cigarra, famosa e anoréxica.

Ambas morreram em meados da primavera.
Uma, de Baygon. 
A outra, de pneumonia.



Tem coisas que eu não entendo



Eu acho tão desumano
Ficar trancado
Todos esses anos
Só porque o resto do mundo
Anda fazendo de tudo
Para ser qualquer coisa
Menos assustadora
Que o terrível monstro da ostra
Que sairia de mim
Se eu decidisse
Sair dessa crise
Matar minha analista
E virar protagonista
De um filme de terror


Maio

O mês de maio
Bem que podia
Começar ao contrário
E o seu aniversário
Seria no primeiro dia
E eu não teria
Que passar o mês
Inteiro
Esperando o dia
O único dia
Em que eu
Te dou um beijo
E um abraço
E você aceita
De carinha boa
Esse carinho à toa
Que eu te faço
Todo mês de maio
De todos os anos
Desde 1.993
Outra vez
Eu me queixei
Deste mês


Cantada sem graça


Eu quero ser o seu grande
Enorme
Imenso
Susto
E depois do susto
Deitar no chão
E rolar de rir
Ao seu lado
Como dois retardados
E depois a gente
Podia se sentar
Respirar, se recompor
E só depois
Bem depois
A gente podia
Começar a falar de amor


Apostas erradas

Se você fizesse tudo
O que se espera
Que você faça
Seria uma trapaça

Você não acha?

Pra ser honesto

Se eu pudesse deixar de ser
Tudo isso
Que pareço
E pudesse
Ser simplesmente
Ridículo
Como tenho sido
Fingindo ser
Tudo isso
Talvez eu pudesse
Finalmente
Ser um pouco menos
Ridículo




sábado, 29 de junho de 2013

Nos confins do inferno




         Era o começo do mundo e formava o Diabo a sua persona. Naquele tempo só havia um ídolo, que lhe era hediondo. Por isso, agarrou-se o Diabo à lembrança lúdica dos heróis de sua infância.
              Entrou entusiasmado na “Casa Naja” e pediu coisas de bruxa: uma capa, um caldeirão, uma colher, um nariz bem feio e para se diferenciar, um rabo de seta e um par de chifres. Dispensou a vassoura, porque lhe arranhava o rabo. E já estava de saída, quando viu pregado na porta o último decreto de Deus:
“Em briga de marido e mulher      ninguém mete a colher”.
            Voltou imediatamente o Diabo e disse à atendente:
            _ Troque esta colher por um garfo, por gentileza!



Pecados imortais



Por que Deus faria a mulher de uma costela de Adão? 
Quem acredita nessa história de costela? 
É claro que ela foi feita da goela. 
A árvore proibida dar maçãs? 
Depois dizem que dinheiro nunca deu em árvore.
Expulsar os dois do paraíso?
No máximo, uma mudança de pasta.
A serpente? Não era serpente. Era laranja! 
Maldito seja Adão com seu caixa dois!
E Eva? Não fez nada.
Só deu com a língua nos dentes.


A visão do poeta -
Quanto perigo!
Depois de mirar a Terra
Só enxerga o próprio umbigo.

Sendo que há dois tipos
Apenas em geral -
O tipo que se acha genial
E o tipo não existo.


Falando sério


Eu quero ser rico.
Muito rico. 
Eu não finjo o contrário.
Estou quebrado.
Preciso de dinheiro. 
Saúde tenho de sobra.
Paz eu venderia, se valesse um dólar.
Amor se arranja com grana.
Felicidade foi-se embora?
Que se dane. Ser feliz é foda.
Eu não quero alegria. 
Preciso de dinheiro. 
Bilhetes sorteados na loteria. 
Ações milionárias. 
Cargos de deputado, ministro, jogador de futebol.
Eu quero o sol. A Sapucaí.
Mas tem de ser agora, pra hoje, pra já. 
Vida de marajá em Maragogi, Maracangalha, Maraocarálio! 
Que se dane o mar. 
Eu quero petróleo.



Mesquinho


Uma andorinha
Só não faz verão
Quando todas as outras
Torcendo o biquinho
Vão fazer inferninho
Nos ouvidos da estação

Lua Cheia

Eu sou cheia de mims
de sins e de nãos
de rimas fáceis
esquinas frágeis
que se dobram em vão

sou cheia de almas perdidas
de noites mal dormidas
de calor e calafrios
cheia de quem nunca
se enche de ilusão

cheia de nervos
de aço e de elástico
e de imensas crateras
abertas à mão

eu sou cheia de amplidão

Poema para Lorena


  
Deus quis fazer-me no fim do mundo,
Sabe-se lá com que intenção.
Mas de tão longe, de tão pequenina,
Imagino que a vontade divina era livrar-me da solidão

E lá nos confins da silenciosa Lorena,
Eu abandonava todas as noites a existência,
Ouvindo apenas os chicotes com que o vento
Açoitava as costas de um velho portão

E toda a cidadezinha, sempre muito calma,
Parecia dormir ao meu lado como as boas almas
Adormeciam conosco no alto do cemitério

Mas quis o mesmo Deus, por um novo mistério,
Que um dia eu partisse, sozinho, como uma alma perdida,
E nunca mais eu dormi tranquilo na minha vida.




Ao convidado ausente

Tu não pudeste ir, mas se tivesses ido,
E dividido comigo algumas horas poucas,
Terias ouvido, aos gritos de outras bocas,
As minhas mais silenciosas palavras

Porque lá gritaram os meus versos
Aos quatro cantos do quintal.
E todos no sarau souberam por que ando pelo mundo
Esgueirando-me nas sombras, segurando-me nos muros.

É que o amor que trago,
Nas poesias que faço,
Nem sempre suporta o meu peso
E desaba em cada palavra que escrevo

E ando, então, pelas entrelinhas,
Entoando hinos de bravura,
Quando na verdade o meu desejo
Era falar só de ternura

Porque amar, morrendo de medo,
É a mais corajosa das aventuras.



quinta-feira, 27 de junho de 2013

Versículos Bíblicos

A poesia se veste de saia
Não porque isso lhe caia
Melhor que um terno preto

O dilema da poesia
É esse seu defeito
De querer insinuar certas coisas

Não que um homem de terno,
Sem nenhuma costura torta,
Não tenha lá os seus mistérios

Mas as coxas, sobrepostas,
São as próprias dunas do deserto
Onde o Diabo atentou Nosso Senhor.


Recomeçar

Agora, minha gente,
Somos eu e meu sonho.
Aos outros
Eu proponho
Que saiam da frente


Vazio

Se eu me cortasse
Por dentro
O que não saísse
Folha
Sairia vento

O durão

Porque o amor
Foi solto
Posso ir para a prisão.

Se topar comigo
Rolamos no chão.

Passarinho Preso

Não importa
Por quanto
Sua alma
Foi vendida:
Eu vou comprar
Essa briga.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Comentário


Tenho 2.302 e-mails não lidos
Na minha caixa postal.
E reviro meu peito,
Sacudo a alma, investigo,
De onde vêm tantas mensagens
Se não tenho tantos amigos?
E descubro, para meu desespero,
A cada e-mail que leio,
Que os amigos não se correspondem mais.
Nem por e-mail, nem por carteiros,
Nem por postais, nem por SMS.
E mesmo que façam uma postagem
É sempre um orgulho, uma crítica ou humor.
Agora os amigos só se falam
Quando algo muito ruim acontece:
Por exemplo, se precisam de um fiador,
Ou se o amanhã, de repente,

Não amanhece.








T.F

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Enredo clichê para um samba qualquer

Tem gente que é feliz
Sim, eu sei
Mas passar o que passei
E não deixar de sorrir...
Ai, eu não consigo acreditar
Que alguém no meu lugar
Não vá chorar o que chorei

Quando minha mãe se foi embora
O meu pai, pela janela,
Acenou eternamente
Mas eu era tão pequeno
Não podia compreender
O porquê do seu aceno

Só depois que eu cresci
E você me apareceu
É que tudo fez sentido....
Descobri que o amor
O que fez com o meu pai
Também aprontou...comigo

Hoje eu sei que a tristeza
Assim como a riqueza
Também vai...
De pai pra filho
Eu sou herdeiro da dor
Sou aquele que o amor
Escolheu pro sacrifício

Eu sou herdeiro da dor
Sou aquele que o amor
Escolheu pro sacrifício

terça-feira, 23 de abril de 2013

Da séria série das canções para ninguém cantar



                                     
Você não me chama pelo nome e eu respondo
você brinca com o que eu sinto  e eu rio
você me convida por engano  e eu aceito
você me abandona  e eu resisto

você já sabe tudo o que precisa fazer
pra fazer o que quiser de mim
mas você não sabe que  precisa de mim
mais do que você imagina

você me culpa por todos seus erros         
e eu me desculpo
você faz só o que você gosta
e eu curto

você assina as suas revistas  e eu leio
você define outro ponto de vista  e eu consinto
você escreve todo o roteiro e eu assino
e você muda tudo o tempo inteiro  e eu me viro
pra me encaixar no seu sonho perfeito
pra me livrar dos meus pequenos defeitos

você já sabe tudo o que precisa fazer
pra fazer o que quiser de mim
mas você não sabe que precisa de mim
mais do que você imagina





Acontecimentos




Metade de mim dormia
E a outra metade acordava

Sonhava que voava entre os aviões
E ouvia a Legião sobre o mar

E sentia dentro de mim
Alguma coisa que me fazia muito bem

E fui acordando meio sem querer
E a sua lembrança foi sumindo devagar



sábado, 26 de janeiro de 2013

Belo Horizonte


Estou interessado na não vida
Nos rostos na conta de energia
Na carreta descendo a Senhora do Carmo
Nos números sorteados da loteria
No novo código de posturas
Na verticalização da Pampulha
No cheiro da Lagoa nos presídios
Nos loucos que fugiram do hospício
Na greve dos funcionários
Nos altares desnoivados
Nos pequenos furtos na Assembleia
Na construção do novo estádio
Na puta que não pariu o seu filho
Nos sonhos que morreram atropelados
No cachorro aleijado revirando o lixo
Nas prostitutas aprendendo inglês
No novo viaduto sobre a linha férrea
Na manobra interminável do metrô
No prefeito reeleito à revelia
No clube perdido na esquina
No placar atualizado da rodada
Estou interessado nos assassinatos
Na lâmina que fere o próprio aço
No Duke “chato” e chargista
Nos guardas atrapalhando o trânsito
Nas placas de “passo este ponto”
E em tudo o que nos causa incômodo
Estou interessado na beleza
De um Deus que se mudou pra Nova Lima
E cravou uma cancela no horizonte.




Dos motivos de cada um



Se eu vivesse de poesia
Certamente já estaria morto,
Dizem-me os amigos,
Mas porque não vivo disso
É que desconfio
Que ando a morrer aos poucos.


t.f

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre as flores amarelas


Poesia é pura solidão.
Criam ensaios, insights, monografias,
Livros livros livros
Para explicar um inútil poema.
Para que estudar uma poesia?
Para que dissecá-la? Cortar sua carne fria,
Extrair suas vísceras vazias,
Dividir seu cérebro indivisível?
Para que tomar nas mãos o seu coração inerte?
Deixem em paz os restos mortais da poesia!
Morto, sempre morto, desde o nascimento,
O poema experimenta a existência!
A poesia não tem berço.
Desistam de encontrá-lo, por piedade!
Sob o sepulcro descansa o poeta
E todo poema é um epitáfio!




Tallu Fernandes