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terça-feira, 24 de maio de 2011

Pergunta

autor desconhecido
Por que eu escrevo
Se não tenho um
título
Que torne meu texto
digno?
Para que eu escrevo
Se o que está
escrito
Não traz nenhum
alívio?
Para quem eu escrevo
se ninguém paga por isso?
Por que não escrever
Se essas
palavras
São tudo o que tenho
a perder?

Tallu Fernandes

domingo, 22 de maio de 2011

O lixo



                                          
Você
Apenas
Depositou
Seu lixo

E limpo
Até hoje
O meu
Orgulho

Sequer
Você
Notou
Ali

Era eu
Sobre o entulho
Um mergulho
Em mim


Tallu Fernandes

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Kundalini

Nesta região sombria
Na ponta
Da espinha

Onde uma chama
Atormenta e escraviza
kundalini shakti
http://frfotos.eu/image/622ba104/
Os sentidos

Reina a glória do homem
Que a consome
No fogo sagrado

E eleva ao ponto
Mais alto
Do seu ser

Essa energia
Que, espiritualizada,
Muda o querer

E se transforma
Em consciência
Divina.


Tallu Fernandes

Miséria humana




Entre avançar ou retornar
Desiste

Entre crer ou rejeitar
Duvida

Entre sorrir ou chorar
Ironiza

Entre cair ou levantar
Vacila

Entre amar ou odiar
Ignora

Entre elogiar ou criticar
Desdenha

Entre morrer ou matar
Some

Entre todos os homens miseráveis
O cético é o mais miserável
Dos homens.

 Tallu Fernandes

terça-feira, 17 de maio de 2011

Vinha caminhando


De repente, olhei pro chão
e vi aquela coisa ali
no meio da rua
Que susto levei
ao ver numa poça de lama
o brilho da lua.

Tallu Fernandes-96
Fonte: google imagens sem referência

O eu entre os monossílabos


O que é já não pode ser
Sendo inexistente, é eterno
Sendo eterno, sucumbe
Suas caras são muitas
Todos os destinos juntos
No seu rosto se cumprem
É trágico demais para sorrir
E ri das tragédias
Como um costume
Evita os pares
Prefere não ser ímpar
E não se assume
Por todos os cantos é visto
Mas é invisível
Ao seu lume
Deita-se na lama
Como o lírio
Que não se funde
É inevitável e arrogante
Sua pele não veste
Seu leite não nutre
Seu nome é um monossílabo
Que entre ser ou não ser
Segue impune

Tallu Fernandes


domingo, 15 de maio de 2011

Eu, a luz



         Alaor Chaves
               (inspirado em poema de Tallu Fernandes)
                                        


Em silêncio
navego o éter que inunda o cosmo.
Sou rubra, verde, azul, violeta, amarela...
(meu coração é rubro).
Sou filha primogênita do Criador
anterior ao sol, à aurora e ao crepúsculo
que tinjo da cor de meu coração.

De cá para lá
(com minha ágil leveza)
carrego a imagem das estrelas
da lua, da areia e das trevas.
Namoro a brisa que me sopra a vida
para travessias carregadas de solidão
(Navegar no ermo é minha lida).

Uma ou outra
(como Jano).
As duas faces não mostro ao mesmo tempo.
Ontem fui onda, hoje partícula
as duas em nenhum momento:
revelo só uma das faces
eleita conforme o evento.

Minha dualidade não é farsa
nem malícia é meu paradoxo.
Mandaram que eu fosse assim
(ambígua).
Olha! mostro-te como sou, colorida
mas não me revelo inteira
se queres devassar minha vida.

Alaor Chaves.

Este poema foi, gentilmente, enviado pelo caro poeta e prof. Alor Chaves, cuja aula sobre o tema do Princípio da Complementaridade, foi a inspiração para o poema homônimo postado neste Blog. Esta aula foi ministrada no Curso de Atualização "Einstein no Terceiro Milênio-2011", promovido no ICEx/UFMG, pelo excelente Prof. Aba Irsrael Cohem Persiano. A ambos os professores titulares do Departamento de Física da UFMG, e colegas de curso, agradeço muito a oportunidade do convívio!



 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Princípio da Complementaridade

Ora um
ora outro
nunca os dois
simultaneamente


Prefiro ser inteiro
em cada experimento
a ser um fragmento
o tempo inteiro


Sempre o mesmo
mas sempre me mostro
ora onda
ora partícula


Um paradoxo
que não me resolvo
porque não me dissolvo
em quem me excita.


Tallu Fernandes


terça-feira, 10 de maio de 2011

O alívio

Se esse único movimento irá me afetar de tal maneira
que eu me perca por inteiro
e nunca mais retorne a mim mesmo
e nem sequer me lembre de quem eu sou
ou leve no peito um vestígio qualquer
dessas coisas a que agora dou valor


se agora essa corrente irá me arrastar mar adentro
e nem um pensamento irá restar que me obrigue
a, pelo menos de vez em quando, sentir vontade
de morrer de medo outra vez como faço sempre


então eu quero que isso me acerte no peito
e que faça tal estrago que para retornar à vida
seja necessário outro coração
que por desventura de um destino desconhecido
venha por coincidência insistir dentro de mim


que deste que trago já estou farto
e estou muito mais gravemente cansado
do que se estivesse apenas adoecido
eu estou louco, estou morto, um morto vivo
e ando desconfiado que neste quarto escuro
trago nas mãos não a morte, mas o alívio.

Tallu Fernandes

foto: Miguel Claro

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cassino argentino



Se você quisesse apenas me aquecer com seu calor
E quisesse apenas me dar por piedade
O que preciso pagar tão caro pra conseguir
E se eu pudesse acreditar que quando você me chama
É porque tem vontade de mim
E quer provar do que lhe trago em minhas mãos
Mas você mente o tempo todo
E joga como um viciado num cassino argentino
Sem nenhum glamour
Apenas por diversão
Então eu que sou cega de amor
Ando sempre distraída e caio no seu jogo
Mas desta vez não pude fingir que não vejo
E percebi que seus olhos são duas lâminas
Que suas mãos espinham meus dedos
Que a sua língua fere quando você diz meu nome
Que você é humano apenas por diversão
Sem nenhum glamour
Mas você agora está numa noite ruim
Porque resolvi me sentar à mesa
E apostar tão alto que você duvide
Que um dia eu possa ganhar
Mas não vou ficar para ver sua queda
Ao pedir emprestado a alguém do lado
Uma moeda e ganhar um não
Sem nenhum glamour
Eu estarei bem longe
Quando a sua ficha cair
E acordarei ao lado de alguém que se livrou de mim
E este alguém sou eu
E serei feliz.
                                                                   Tallu Fernandes

domingo, 8 de maio de 2011

Menino Nuvem

http://www.casadoberadero.org.br./galeria.html

Eu vou pra Béradêro
De chinela rastapé
Eu toco a noite inteira
Lá na minha Catolé
Só que tem gente ainda
Me achando esquisito
É que não sou mais visto
Pela rua mal vestido
E quando eu toco bem
A menina também toca
Com seu olhinho torto
A minha boca medrosa
E eu conquisto um beijo
Só porque faço bem feito
O que antes eu achava
Que nunca levava jeito
Sou agora conhecido
E isso não me incomoda
Eu sou um menino vindo
Lá de Catolé da Rocha
E sou agora feito nuvem
Que atrapalha o varal
É que faço muita sombra
Quando quero muito sol.


Tallu Fernandes

domingo, 1 de maio de 2011

1º de Maio




Na janela
Meu vizinho tem
Um passarinho

Ele reclama
O tempo todo
Desde cedinho

Depois se cansa
artesanato: Tallu 
Sonha um pouco
E começa de novo.

Na carteira
Meu vizinho tem
Um emprego

Ele sonha
O tempo todo
Desde cedo

Depois se cansa
Reclama um pouco
E começa de novo.

              Tallu Fernandes

Eu não sou digno

Não está na sua mão
minha amiga
nem nos seus olhos sempre arredios
nem em nenhum lugar do seu corpo
                Não está nem mesmo no seu coração
                essa terra longínqua e fascinante
Não se esconde nos seus cabelos
nem quando havia como
entre os caracóis
quem dirá agora
tão curtos e deslizantes
                Não está também entre os seus dedos
                que tantas vezes se entrelaçaram aos meus
                e que talvez por isso me fizeram crer
                que estaria somente em você
                a minha força vital
                o amor
                o estranho amor de que me falam
                o amor eterno
                transcendental
                o amor maternal
cuja ausência
é a causa dessa doença
de todo o mal
de toda a dor
de toda solidão
                por isso me perdoe,
                por favor,
                perdoe a minha estranheza
                que nem por você nem por ninguém
                pode ser compreendida
                a menos que também se enlouqueça
Por isso rezo ao Senhor
que me permita morrer
e renascer n'outra vida
              Quem sabe n’outra barriga
              tão demente e generosa
              a ponto de vir a amar
              como se ama um filho
              aquele que trará o meu espírito.

                                                 Tallu Fernandes




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