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domingo, 25 de maio de 2014

O grande mal

Milhões de soldados marcham, desorientados,
Seguindo as ordens de seu capitão, o capital,
Sem portar nem mesmo uma arma,  um centavo,
Capaz de o atingir quando o virem, o grande mal  

Do mal a ser vencido em cruéis batalhas, tão inúteis,
Sequer lhes mostraram do rosto, uma face,
E atravessam bravamente montanhas e túneis
Confiantes de o derrotarem, apesar do disfarce  

Mas ao arrancar - lhe a máscara na hora do embate
Não haverá entre esses homens nenhum soldado
Que não se faça de repente um infeliz covarde

E não haverá quem possa condenar sua conduta
Se o mal que combatiam era a própria luta
Entre morrer erguido ou viver ajoelhado.  

terça-feira, 20 de maio de 2014

No peito da pátria


Agora dormes, embora saibas que a manhã se refaz
Indiferente à sonolência de teus planos
E a de todos os guerrilheiros que ano após ano
Morrem, mas não se rendem aos apelos da paz

Perdes a fé, apesar dos homens e seus milagres
Ressuscitando a matéria morta das ambições diurnas
E apesar das mulheres replantando ilusões noturnas
Agora dormes,  alheio à esperança e seus entraves

No peito da pátria te entregas ao sono
Que antes adiavas para sempre mais tarde
Quando tinhas ainda a alma densa de uma criança

Mas agora um anjo negro entoa um acalanto
E teu espírito rarefeito finalmente descansa
Apesar dos gritos agonizantes da mocidade


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Homilia Dominical



Tranquem as portas dos fundos
Antes que entrem os ladrões noturnos
Com suas caras encobertas
E suas armas em punho

Fechem todos os portões,
Acionem os sistemas de alarme
E, por via das dúvidas,
Deixem soltos os cachorros

É na hora mais alta que eles surgem
Com suas obscenas intenções,
Rezemos um terço antes de dormir
E cuidemos de dormir bem acordados

Homens de bons salários,
Senhoras bem casadas,
Meninas virgens e meninos suados,
Cuidado! Os ladrões serraram as grades.