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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A Tragédia do Eu



Eles daqui de longe
Não se parecem comigo.

Coro:     Mas de perto
              São tão parecidos conosco!

Mas quem são eles?

Coro:     Ora! São os outros!

Mas quem são os outros?

Coro:     Ora são eles, ora somos nós.

E quem sois vós?

Coro: Somos todos, ora!
          Ele deve ser louco! Vamos embora!

Esperem! Mas e eu?
Quem sou eu?

Coro: Já estamos muito distantes.
          Mas daqui de longe,
          Não te pareces contigo!

Mas onde encontrarei
Quem se pareça comigo?

Coro: Ora, não sejas tolo!
         
Mas eu preciso conhecer-me
E vós dissestes que eu não me pareço comigo!

Coro: Corram! Corram! Ele é mesmo louco!
            Quer conhecer a si mesmo
            Mirando a face dos outros.

Oh, maldição do Eu!
Fadado a viver eternamente só,
Sem sequer saber quem sou.

O Bairro dos Desajustados


Na Rua dos Odontólogos
Mora um senhor sem nem um dente

E na Rua dos Médicos,
Um outro muito doente

Na Rua dos Arquitetos
Mora um sem-teto

E na Rua dos Advogados
Um homem muito honesto

Tudo isso me intriga
No bairro onde eu moro

Deram a cada rua uma profissão
Sem nada saberem dos moradores

Será que para uma região de trabalhadores
Seu Augusto não era muito preguiçoso?

E não terá sido um grande erro
Entregar à Rua dos Jornalistas um tremendo fofoqueiro?

Por isso é que de vez em quando
Eu acho o meu bairro muito estranho

Mas se cada morador tivesse uma rua só pra si
Talvez fosse bem melhor assim

E poderíamos dar às nossas ruas
O nome que mais se parecesse conosco

Eu, por exemplo, sairia da Rua dos Psicólogos
E iria para a Rua dos Loucos

Aquele Seu Augusto, que acabou de perder mais um emprego,
Poderia finalmente morar na Rua do Sossego

E meu amigo Júlio, que odeia o Lula mais do que tudo,
Não precisaria morar na Rua dos Metalúrgicos

E todo mundo seria mais feliz na profissão
Se cada um se mudasse pra sua Rua de Vocação

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Presságio



Se eu acordasse de repente
Dentro de um túmulo
Sei que minha carne se debateria
Insana!
                                  
Porém minha alma não faria nada
E apenas me diria
Delicada!

“Dorme tranquila,
Descansa!”



tallu 

Saudades



Sinto saudades suas, poeta,
E da melancolia vintage
Que nos leva à poesia


Sinto saudades do nosso passado
Que não existe
E que só por isso é menos triste

E sinto saudades do presente
E do futuro
Que não passaremos juntos

Que me perdoe a sua amada
O meu engano
E essas horas! que já é bem tarde

Não se trata de amor,
Mas é tanta saudade,
Que às vezes chego a pensar que eu te amo



tallu

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015



Podemos
                      perdoar  
mil
                                      vezes 
                por amor
Mas quantas vezes
                         o Amor
                                        poderá nos

        perdoar por isso?






sábado, 14 de fevereiro de 2015

Por que Eu Não Voei de Asa Delta

Quando ela chega na velhice,
Bem lá no fim da caminhada,
Ficamos tristes
Mas vá lá!
Já era de se esperar.

Mas quando ela vem sorrateira
E atropela um homem no meio da estrada,
Dá uma vontade danada de perder as estribeiras.

Culpa do hábito de acreditar que, dia após dia,
O amanhã se repetirá sem se esquecer de nós.

E vamos caminhando distraídos,
Até que se perde de repente um amigo...

"Bendita seja a morte
Por ter sido gentil conosco!"
Pensamos covardemente.

Claro! Jamais confessaremos,
Que apesar de tamanha dor,
Pudemos ser tão pequenos.

Mas como se quer seguir viagem
É melhor não bancar o corajoso

          "Sim, senhora,
            Daqui em diante
            Seremos bem menos moços!"

E lá vamos nós agora, muito a contragosto,
Aceitando o que se apresenta como a única saída
               "Evitar a vida,
                A fim de escapar da morte"