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sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Poeminha para os novos Tempos


Amo um não sei quem
Com um amor
Que não sei o que é
E eu que nem sei ser eu
Vou aprendendo
A ser alguém
Que é outro qualquer
Enquanto o amor
Seja lá o que for
Vai deixando de ser uma coisa
Entre homem e mulher




Deus e o Preto



Deus bateu na porta:
_ Quem é? Perguntou o preto.
_ Deus.
_ Não te conheço.
_ Mas fui eu que te fiz.
_ Pois fez mal feito.
_ Quer que eu te refaça?
_ Já me refiz por mim mesmo.
_ Mas de que jeito?
_Do jeito que deu.
_ E ficou satisfeito?
_ Não lhe interessa.
_ Perguntei por perguntar.
_ E me criou por criar.
_Também fiz assim com o branco.
_ Mas ele não reclama?!
_ Nunca vou saber.
_ Não vai saber por quê?
_ Ele não fala comigo.
_ E por qual motivo?
_ Também não sabe que existo.
_ Pois então vá se apresentar.
_ Eu tenho medo.
_ Mas você não é Deus?
_ Sou. Mas eu sou preto.






De quantos somos feitos


Ela tinha tantos
Eus
Dentro de mim
Que para cometer
Suicídio
Formou um
Grupo de autoextermínio

O Espantalho


Eu nasci para ser triste
Inteiramente

Mas a vida me rasgou
Por dentro

E veio a alegria e me encheu
De remendos

E fez de mim um pobre
Espantalho

De braços abertos
Sorrindo sozinho

Tudo que consigo
É espantar os passarinhos

Os lugares que somos


Longe é lugar
Que mãe inventa
Pra não levar o menino
Ali mesmo,
Porque está cansada,
Sem vontade,
Ou sem dinheiro.
E depois o menino
Fica cansado,
Sem dinheiro,
Ou sem vontade
De ir ali mesmo,
Aonde podia ter ido,
Se o lugar não fosse tão longe.

Luzeiro




Eu faço o inverso
De quem morre

Abro os meus olhos
No último instante
Apenas

E levo comigo
As cenas
Da vida que vejo adiante

O Universo Spam de Si

(redes antissociais)


Quanto mais o universo
Expande-se
Menos minha mão
Te alcança
No infinito
Mínimo
Que nos protege
Do contato máximo
Com o próximo


Mas, que coisa!

Mas, que coisa!
Não há palavra que defina
Coisa que não exista,
Até que seja dita.
Pois assim que se diz
(Qualquer coisa que se quis)
Ainda que não se diga
Coisa com coisa,
Uma coisa qualquer
Passa a ser tida
Como coisa existida.
E eis a coisa toda:
Criar com palavras
Todas as coisas!









Teoricamente


Regime político
Em que cada indivíduo
É um general.

Em geral,
Eis a democracia!

Adeus, Minas Gerais


Quando um mineiro
Sai de Minas Gerais
Em cada igreja soa um sino
Em cada estação um trem apita
Em cada homem se anuncia
Que ali vai mais um menino
Deixando a mãe para trás.

Versinho para um amor que morreu

A maior solidão,
ainda não se sabe bem,
se é quando alguém nos esquece
ou se quando esquecemos alguém.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Barriga Vazia


Poema tem vontade de comer
Mas não come

Toca prova
Mastiga rumina
Mas não engole
Cospe

Poema gosta é de morrer de fome




Poema para uma Menina Estranha


O que é que houve, meu amor,
Perdeste as chaves da concha?

Trancada em si mesma
Passas à vida alheia

Será que viraste pérola?
Ou será que morreste areia?



terça-feira, 13 de novembro de 2012

P da Vida



O que o pato pensa? –
Pensava a pena!
Será que valho a pena? –
Pensava o pato!
Quem não pensa pena –
Pensava a pedra!
E quem pensa?
Paga o pato
E fim de papo!

T.F



domingo, 4 de novembro de 2012

Boa noite




Por favor
A qualquer coisa que eu diga
Nesta noite
Responda apenas
Boa noite
E vá dormir depois

Tudo em mim conspira
Contra o amor.