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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Retratos Antigos

Elas ficavam num baú,
Numa caixa de sapatos,
Escondidas

Uma ou outra vez eram vistas
Pela casa,
E voltavam pra caixa

Porque eram poucas,
Apesar de nem sempre boas,
Precisavam ser bem guardadas

Chamavam-se retratos,
Porque geralmente
Eram quase que só de gente

Os cachorros, os pratos de comida,
E até a vida
Ainda não merereciam tanto foco

O retratista dizia "olha o passarinho!"
E a gente ria, muito sem graça,
Imaginando o bichinho

Por que alguém imaginava
Que imaginar um passarinho
Podia ser engraçado?

Não sei.
Mas que funcionava,
Funcionava!

E se acontecesse que alguém saísse mal
Ou não risse,
Não se tirava outra foto

Era normal ser meio feio ou meio triste.

sábado, 19 de setembro de 2015

A Pedra

Pensando estar seguindo o curso da vida, Encontro certos empecilhos,
Como é certo que um rio
Há de encontrar pedras no seu caminho

Nem sempre o homem é um rio
Tal como espera a sociedade
Moderna

O homem pode não ser líquido

E eu, demasiadamente humano,
Duro, incrustado na terra,
Sinto a água limpa da vida
Contornando a minha pele

Estou parado,
Estou pesado e vazio,
Não estou inteiramente vivo

Eu sou, eu mesmo,
A pedra

Mas como é difícil
Desviar-me de mim

E como é possível
Que a vida o faça
Tão naturalmente assim?