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segunda-feira, 20 de julho de 2015

Eva

Um homem é somente um homem.

Uma mulher, não! Não, senhor!
Uma mulher é, metaforicamente, 
Uma serpente!
Que Adão vá para o inferno!

Que os Estados Unidos vão também para o inferno!
Terra de crápulas!
(Que outra nação homenagearia a Liberdade com uma estátua?)
Deus nos salve da América!

Há criancinhas horríveis.
E delas há exemplos  lindíssimos!
Filhosinhos da pátria mãe gentil que as pariu,
A infanticida! 
Malditos sejam os seus filhos,
Os miseráveis!

E há crianças ainda
Cheias de dentes brancos como as grinaldas das virgens e os gringos do Rio!
Benditos sejam os filhos de nossa pátria amada,
Brasil!
Mas que se danem!

As mulheres,  as crianças,  os velhos-
Um trio elétrico baiano causaria menos dano aos tímpanos!
Sim, senhor!
Grande parte do barulho do mundo vem dessa santíssima trindade!
Que se calem!

Os anjos não têm sexo,
Não são feios nem belos.
Tudo que existe deseja,
Devora,
E se olha no espelho
E se convence de si mesmo
Conforme as qualidades e os defeitos!
Logo, os anjos não existem!
Malditos sejam!
Que Deus me perdoe!

Minha Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
Socorrei-nos!
Eu vejo vindo a nuvem negra!
E ouço gemidos!
Adeus, amigos,
Eu também já vou indo.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Os Loucos

Amo os loucos
Amo todos os loucos
Tenho verdadeira loucura pelos loucos
Amo-os loucamente
Como amo os tolos
Os bobos,  os dementes,
Amo-os simplesmente
Por amar a mim mesmo
Em todos eles
E em cada um deles
Reconhecer também o rosto
De meus ingênuos amigos
Tão sãos,
Tão sábios,
Tão coerentes!

Tallu

Poema Para o Menino Morto

Exatamente um milésimo de segundo
Antes do último segundo,
Alerta como jamais estivera,
O homem se despe de sua carne,
E de sua alma

Engana-se quem espera do homem,
Este ser que é só carne e sopro,
Desfazer-se de seu corpo
Sem com ele perder seu espírito

Seria todo homem um santo
Se assim fosse

Porém, por ser exatamente um homem,
E por ser o homem exatamente o que é,
Só é possível morrer completamente

Exceção aberta aos homens de fé.

A fé que eu não sei
Que eu não tenho
É que te dou,
Meu pequeno menininho morto,
A tiros,  agora há pouco,
Por uma bala perdida
De uma arma qualquer.