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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Conjecturas

Pessoas horizontais
São linhas cultivadas
Em estufas hidropônicas
Partículas de água muito finas
Ou simplesmente,  nuvens

Homilias dominicais

Textura de música
Racionalidades lúdicas
São da mesma matéria
Das Vitória-Régias

Catástrofes emocionais

São sóis da tarde
Sem nenhuma utilidade
Para as outras pessoas

Inviabilidades industriais

Uma espécie de produto em desuso

Resistências residuais

Por exigências mercadológicas
A tendência agora
São pessoas verticais

Papo de Doido

Ultimamente, eu tenho ouvido tantas pessoas dizendo coisas sem nenhum sentido...

Será, que de repente,
Toda essa gente
Resolveu conversar comigo?

Sei lá!
Mas, por via das dúvidas,
Eu passo e cumprimento
Uma por uma.

Elza

Meus amigos disseram que Elza morreu!
Que me importa se me trazem notícias ruins?...
Malditos sejam os amigos
Que me tratam assim!

Elza, querida, mas por que tão cedo?
Ficasse um pouco mais,
Tomasse outra taça,
Contasse mais uma,
E pode ser que a gente até fingisse te achar engraçada...
       (Sabe, Elza, se a gente  soubesse que seria logo esta a tua última piada...)

Mas ir sem dizer nada
Que graça isso tem?
Diz, Elza, meu amor, meu bem,
Por que partir agora?

Será que demora
Eu partir também?

Mas não me responda,
Vai! Vai embora!
Os anjos te esperam
Na porta do céu!
Vai, minha amiga,
De que serve um adeus?

A morte não passa de um encanto.
Eu pensarei que estás apenas dormindo,
Exatamente como nos contos de fada.

Eu te prometo, Elzinha,
Que tu não verás nenhuma lágrima.

Ah,  meu Deus, meu Deus!
Lá vêm trazendo seu corpo sem vida!
E apesar de tão fria, a pele tão pálida,
Vejam, camaradas,
Como está bonita
A minha Elza querida!

(T.F.)

domingo, 18 de janeiro de 2015

Confissões de Rosa Dona da Rua

Na primeira vez
Ela quis matá-lo

Na segunda vez
Ela mataria qualquer um

Na terceira vez
Um suicídio seria aceitável

Na quarta
Ela foi se acostumando

Na quinta
Ela já não se importava

Na sexta
Ela abriu uma cerveja

No sábado
Ela pediu um cigarro

No domingo
Ela acordou bêbada

E deste dia em diante
Ela nunca mais voltou à igreja

De tanto perdoá-lo 

por amor

Descobri que já não podia

Amá-lo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Ou Seja....

Se os homens aprendessem a respeitar as mulheres,  estas não precisariam aprender a "dar-se o respeito".
Se os homens compreendessem que qualquer diferença salarial deve se basear apenas em competências explícitas, as mulheres não teriam que provar o tempo todo que a competência não se esconde nas partes íntimas.
Se os homens não pudessem andar livremente mostrando os peitos sem serem estuprados,  uma mulher com os seios descobertos não precisaria ser retirada das ruas "para a sua segurança".
Se os homens se preocupassem com não cometer uma gravidez,  as mulheres não precisariam cometer um aborto.
Se os homens não tivessem certeza de que duas lésbicas estão "precisando é de um pênis", não restariam dúvidas de que o pênis pode ser totalmente dispensável.
Se os homens não dissessem a seus filhos "você está parecendo uma mulherzinha", suas filhas não ouviriam que ser mulher é quase uma vergonha.
Enfim, se os homens não aceitassem o machismo como algo tão natural, o feminismo não pareceria algo tão extraordinário.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Quantos passos
                         errados 
ainda daremos
        na tentativa desesperada
            de provar
                      que estamos
no caminho 
                     certo?

Estranha História

Para tentar ser feliz
Foi capaz de tudo
Até de ser infeliz

À procura do amor
Esqueceu-se de tudo
Até do que era o amor

Para ter o que queria
Aceitou tudo
Até o que não queria

Mas ao ter tudo o que quis
Ao encontrar o amor
E ser finalmente feliz

Pensou não ser tão ruim
Se não tivesse tanto
Não amasse tanto
E não fosse tão feliz assim





domingo, 11 de janeiro de 2015

Suposições de um Taciturno

Delicadamente ela chega
E nos lares mais improváveis
Aconchega-se.

Senta-se à mesa
E ceia
Do melhor pão e do mais fino vinho.

Sorri amavelmente,
Mostrando-se formidável companhia.

E quanto mais alta a sociedade
Mais ela se sente à vontade,
A nossa amiga Hipocrisia.

Até que numa superlativa manhã,
Sentindo-se já muito querida...
Faz como fez José Dias-
          Deixa de ser visita
          Para tornar-se a anfitriã

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Consagração

E então um dia voltamos a gostar do próprio nome
E o escrevemos como na época da alfabetização
Aquele orgulho de saber
Quem somos pela primeira vez
A cada vez que o vemos no papel

Um sinal de paz,
Uma espécie de reconciliação
Com a nossa mãe e nosso pai

Nessa hora olhamos para o céu
E dizemos amém para tudo o que Deus quis até aqui

Mas, sei lá por que razão,
Muito humildemente,
Fazemos um único pedido:

"Daqui pra frente
O Senhor deixa comigo"

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Feliz Ano Novo

O problema do Ano Novo é que ele sempre vem com defeitos terríveis e não tem Assistência Técnica conhecida. Se alguma coisa não funcionar em doze meses o único jeito é comprar outro.
E nada garante que o novo Ano Novo não virá com os mesmos defeitos do antigo.

Outro problema é que estamos falando de uma coisa que não serve nem para doações natalinas. Sapatos,  roupas, amores, tudo isso pode ser reaproveitado. Mas ninguém é tão pobre a ponto de precisar do "Ano Velho" de alguém.
E o Ano Novo não admite usos fragmentos - se quiser o bom tem que levar o ruim.
Ouvi dizer de um pessoal que tentou reciclar velhos Anos Novos, mas não deu lucro. Uma pena!
Também já ouvi que alguns artistas fazem lindos trabalhos com seus Anos Novos antigos. Mas não é todo mundo que tem criatividade nem paciência para ficar reinventando o Ano Novo.  E ainda não surgiu artista que reinvente o Ano Novo dos outros... Infelizmente!
E assim vamos enchendo a casa de Anos Novos que já não usamos mais.
Por tudo isso é surpreendente que o Ano Novo ainda não tenha caído em desuso.
Inclusive, há uma série de estudos que comprovam os malefícios do impacto ambiental causado por todo esse acúmulo pessoal de Anos Novos. Um dos efeitos já comprovados é o aquecimento global. De fato, pode-se notar que os Anos Novos têm vindo cada vez mais quentes!
Apesar de tudo isso, por mais inevitável e necessário que seja, ainda não se descobriu um produto mais eficaz e menos poluente que possa finalmente substituir o Ano Novo. Talvez estejanos todos esperando que já exista alguém pensando nisso...
Então,  já que não iremos abandonar tão cedo este hábito do Réveillon, sempre que for adquirir um novo pacote de Ano Novo, tente pelo menos verificar se não está incluindo na lista os mesmos desejos do antigo!
E se por acaso houver algum item imprescindível que não foi cumprido nos últimos anos, a dica científica é, ironicamente,   fazer o pedido mágico "consciência". Com consciência dizem que é possível distinguir entre os desejos que são tão importantes a ponto de os realizarmos a qualquer custo e os que são tão custosos a ponto de deixarem de ser tão importantes assim. E o bom é que a Consciência já vem num kit que contém ainda coragem e paz! Bom demais, né!
Então, um abraço e feliz Ano Novo de novo....rsrs