Se alguém perguntar por mim
Pode dizer que eu voltei pra casa...
Mas não comente do quanto andei ferido
E de todas as palavras que me acertaram
Nem diga nada sobre os meus absurdos...
E se pedirem mais algum detalhe
Como fazem esses parentes repentinos
Diga qualquer coisa sobre os comprimidos
Mas não mencione as dosagens
Nem toque no assunto dos afastamentos
Que essa gente é toda cheia de maldade...
Mas se algum amigo desavisado
Por acaso me ligar a buscar notícia
Pode dizer que eu fui sorrindo
Com aquele meu velho riso de malícia
Que tanto irrita e por isso mesmo conquista...
E que se isso não fosse verdade
Ele agora não estaria ligando
Embora um tanto quanto tarde...
Mas diga que sim, que parti sonhando
Como sonham todos os lunáticos
Com a utópica esnobe liberdade...
E se finalmente meu pai me procurar
Numa tentativa quase ridícula
De finalmente tornar-se um pai
Diga-lhe que agora já é tarde demais
E que toda e qualquer paternidade
Será finalmente perdoada...
Diga-lhe que neste lugar para onde eu sigo
É dispensável toda gravidade
E que, enfim, eu sigo livre de mim mesmo...
No final da avenida,
Subindo infinitamente a rua
Encontrarei a minha morada
E se mais um alguém perguntar por mim
Não diga nada sobre a lua...
Diga apenas que voltei pra casa.
Tallu Fernandes