Não está na sua mão
minha amiga
nem nos seus olhos sempre arredios
nem em nenhum lugar do seu corpo
Não está nem mesmo no seu coração
essa terra longínqua e fascinante
Não se esconde nos seus cabelos
nem quando havia como
entre os caracóis
quem dirá agora
tão curtos e deslizantes
Não está também entre os seus dedos
que tantas vezes se entrelaçaram aos meus
e que talvez por isso me fizeram crer
que estaria somente em você
a minha força vital
o amor
o estranho amor de que me falam
o amor eterno
transcendental
o amor maternal
cuja ausência
é a causa dessa doença
de todo o mal
de toda a dor
de toda solidão
por isso me perdoe,
por favor,
perdoe a minha estranheza
que nem por você nem por ninguém
pode ser compreendida
a menos que também se enlouqueça
Por isso rezo ao Senhor
que me permita morrer
e renascer n'outra vida
Quem sabe n’outra barriga
tão demente e generosa
a ponto de vir a amar
como se ama um filho
aquele que trará o meu espírito.
Tallu Fernandes
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