O problema das cartas atuais é a ausência do carteiro. Sem
ele, as linhas não descansam o tempo suficiente para amadurecer as ideias. As
palavras ficam frias, porque não podem experimentar o calorzinho do envelope,
de mão em mão, aquecendo os sentimentos que iam lá dentro. Sei lá... Mas deve
ser por isso que as cartas enviadas pelo correio certamente eram mais
calorosas.
Agora essas, on line, vão rápido demais, voltam rápido
demais. O coração mal tem nem tempo de pensar na primeira e já é hora de
responder à segunda. Se demora um ou dois dias, sabe que do lado de lá existe
um ser morrendo de angústia. Mas antigamente, se a resposta demorasse a
chegar, isso era muito comum, e as almas podiam dormir tranquilas, os dias
podiam passar sem traumas, porque a resposta devia estar em algum lugar,
viajando uma viagem longa e preguiçosa. E só era preciso esperar, esperar,
esperar... E se a resposta não chegasse nunca, provavelmente houve alguma falha
dos correios e a carta foi extraviada. E com este argumento do extravio os
correspondentes reconfortavam-se. Porque a dúvida era um ânimo para quem
aguardava a resposta, e o pretexto, eternamente disponível, para quem
se recusasse a responder... E assim os corações podiam sofrer um pouco mais
consolados porque, na ausência de certezas, a dúvida resolvia tudo. E até podia
acontecer de, passados alguns dias, as ideias se modificarem, e a resposta,
tão aguardada, seria melhor mesmo se já não viesse... E a resposta não enviada,
seria bastante urgente que se a enviasse imediatamente. Mas agora o que resta é
justamente a mais completa ausência de dúvidas. Se não respondeu foi
porque não quis ou porque não se importa, não existe desculpa. A grande
tragédia é que não existe nada mais indispensável na escrita das grandes
paixões do que alguns pontinhos de interrogação.
Tallu Fernandes