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domingo, 6 de novembro de 2011

GEOGRAFIA AUTO-AFIM


        
                               (poema fractal)

No bairro chique, a branca mansão,
linhas soberbas, amplo jardim, destaca
ostentação e bom gosto.
O gordo dono, seguro e com orgulho
em si não cabe.
Na longa lida, contínua, às vezes honesta,
seus bens amealhou, embora amargue
companhia tão modesta.
Quão mais bela seria a vizinhança
e grandiosos seriam vossos lares
se vós outros, no mor da luta mais empenháreis!

blow up!

Nova imagem re-escalada mostra o bairro
tão limpo e alegre, vistosas ruas.
O contorno, porém, o quadro vexa;
fracassados seu meio habitam, sem mais tarefa
que nos jardins do bairro desfilarem, sem convite,
suas ousadas presenças,
assaltando os ricos, pra si tomando
o que por bem não conquistaram.

blow up!

A cidade seus contrastes solveria
não fora a plêiade de invasores
que ao invés de o campo habitarem,
da cidade bugigangas consumindo,
dando em troca alimento e todo o alento,
à fonte de vãs ilusões acorrera.
Volvei aos lares, retirantes, e não vexeis
com vossas angústias
nossa consciência e nosso bom gosto!

blow up!

Avenida Paulista, de nossa glória mor sambódromo,
tão mais bela serias e reluzente
não fora mineiros, nordestinos e demais outros
em tantas levas às tuas bordas aportados!
Pedimos pedreiros, motoristas, faxineiros
pra nos servirem e o lauto ganho agradecerem.
Em acinte, a nós impondo, também trouxestes
feias crianças e mulheres desdentadas
portando ventres de um fértil desmedido
que nossa urbis transbordou de humano inchaço.

blow up!

A Liberdade, airosa fronte,
no mar sem fim pairando o olhar,
contempla as ondas que se oferecem
às praias do Império,
revivida Roma rompendo a simetria
do planeta esférico.
Quais povos, em desaviso
ou ousadia, minha glória contestastes
sem que o jugo de minha força vos quebrasse?
Sem opostos neste globo conquistado,
de servis povos subalternos populado,
no infinito fito os olhos, noturna busca
de outras almas altaneiras, iguais à minha.
Em qual estrela viverá minha parceira
de iguais conquistas e nos costumes tão mais pura
que mesmo imersa num mundo equivocado
com olhos límpidos tudo vê, corrige e sana?
No planeta que é meu reino e moradia,
dou liberdade, na medida e vigiada
a quantos povos que se esforcem na procura
dos ideais que emano e ensino, e da Doutrina.


Alaor Chaves